Porque falamos tanto de “custo Brasil “ e falamos pouco de
“custo empresa”?
O titulo desse artigo
parece uma provocação, ou no mínimo uma pergunta na contramão ou, ainda, de
alguém que não mora no Brasil (e isso é verdade, moro na Itália!)
São anos que somos “escravos “ da taxa cambial , uma verdadeira
gangorra: se exporta quando o cambio está “favorável , não se exporta
quando o cambio se traduz em menos reais para receber por cada dólar! (isso sem contar que quando deixamos de exportar, a imagem do Pais
lá fora não estará ao máximo e o nosso habitual importador não vai ficar esperando
que se inverta a situação cambial: vai simplesmente trocar de fornecedor
mais…constante!(para não dizer mais comercialmente serio!)
E que dizer dos chineses que estão acabando com fabricas de meio mundo?
A tal de desindustrialização, muito se deve a eles! (se fala isso de varias
partes!)
Primero teríamos que
acender uma vela aos chineses (ou tantas quantos são…. os chineses!!)pois graças
à eles tem se mantido uma boa porção de nossas exportações (pena, quase
que só commodities: mas não importa , tem entrado dólares, )
Segundo: eles estão
investindo (mais uma outra entrada de divisas em muitas áreas no
Brasil)
Terceiro: talvez em
lugar de nos apavorarmos, deveríamos aprender as coisas boas deles, como
investimento em pesquisa, formação de um “exercito” de
engenheiros, a agressividade comercial, etc.
Não adianta competir
com eles: tem que fugir da “rala” e brigar em outro segmento de mercado.
( claro está que
temos que nos defender de praticas ilegais, de dumping, etc)
Que tal então levantar um “muro” de protecionismo: vamos penalizar
as importações, melhorar mais ainda a nossa “tecnologia “ de complicar a
vida de quem quer importar?
Os mais antigos
lembram que quando nosso mercado estava “protegido” (mais que o mercado
“protegido” estavam protegidos uma meia dúzia de fabricantes”),
a gente andava de
“carroças” , tomava uns vinhos “terríveis” a inflação estava na nuvens e quem podia,
quando voltava de viagem do exterior vinha carregado de coisas que agora,
alguns daqueles objetos, a gente pode tranquilamente comprar no supermercado da
esquina.
E depois se é urgente
para nos a inovação, será que taxar de sobremaneira as importações não seria
dar um “tiro no pé”: quase que 60% das nossa importações são insumos,
tecnologia e matéria prima para a nossa indústria
A competitividade da
nossa indústria anda no ranking de 133 países, no lugar n° 56, o PIB por hora
trabalhada anda por volta de US$ 11,00 contra uma media de US$ 35,00( Alemanha
US$56,00) e o custo industrial médio, tendo os EUA no nível 100,
nos estamos em 93 e a China em 74 (só que não temos “o poder de fogo “ dos EUA,
nem as condições de trabalho da China ou da Índia, nem a competitividade
da Alemanha )
Outras justas quiexas
em nossas conversas diárias tem sido a imensa carga tributaria, a
infraestrutura que deixa a desejar, o custo do credito proibitivo, etc., etc.
etc.
Quem tiver mais que
coloque!
Vamos dar uma olhada
na situação:
Europa em crise,
Estados Unidos não passam bem , China freando, e aqui entrando uma
enxurrada de Dólares e Euros, seja para especular (com as fantásticas taxas de
juro que temos por aqui) seja para investirem na Copa do 2014, Olimpíadas, pré-sal,
PAC, etc. (somos uma das poucas economias crescendo no cenário internacional e
todo mundo lá fora quer um pouquinho): desvalorizar o Real? Não dá!
Nossas exportações se
vendem mais por toneladas (commodities) e menos por quilo (produtos com alto valor
agregado). É obvio que isso é perigoso para a saúde do nosso comercio exterior,
pois os preços das commodities estão sujeitos à altos e baixos, o preço da
“inteligência” (leia-se: design, processo produtivo, gestão da
informação, presença nos mercados, etc.) tende sempre a subir. Continuando a
exportar navios com soja ou carne ao preço de uma meia dúzia de containers de
SUV’s, não vamos chegar longe!
Mais uma pedrada: o
pessoal lá fora (e nós orgulhosamente espalhamos isso), sabe que agora somos a
6ª potencia econômica e se tudo correr bem (?) seremos a quarta potencia daqui
a alguns anos ( a França que se cuide!). E daí? Daí, não somos mais um Pais em
desenvolvimento e justamente nos tiraram o tal de SGP (Sistema geral de
preferência): pois país rico não precisa disso.
Que pena: a “bengala”
do SGP nos dava uma entrada preferencial em vários mercados e agora nos cabe
brigar em igualdades de condições (?) com outros Países ricos…. como nós! (da
próxima vez, trataremos esse assunto da tal de potência, mais à moda mineira,
muito discretamente, quase em silêncio!).
Vários produtos
industrializados Brasileiros estão sendo substituídos por produtos chineses nos
mercados tradicionais onde exportamos. Setor têxtil, brinquedos, plásticos,
lâmpadas, embalagens, calçados, vestuário, bastante afetados.
(veja, por exemplo,
na Argentina onde os chineses estão nos tirando da jogada sobre muitos
produtos, avançando em uma progressão geométrica: em 2003, o Brasil exportava
para Argentina 8,6 vezes mais do que os chineses: hoje só ganhamos deles de 2,5
vezes (pode imaginar para quando será a ultrapassagem?)
O pior, 45% das
empresas Brasileiras (dados da CNI) estão sendo afetadas pela concorrência de
produtos chineses, aqui, no nosso quintal. Moral da historia: estamos vendendo
para eles, em toneladas (matéria prima) e importamos por quilo (produtos
manufaturados)!
É só esperar para ver
como vai acabar esse jogo (o pior sem regras e sem juiz, a quem talvez se
poderia culpar!)
Até agora nesse jogo
já estamos perdendo de goleada de 4 a 0
1X0 não dá para
fazer muito com o cambio dólar/real
2X0 aumenta nossa
vulnerabilidade exportando commodities e perdendo exportações de manufaturados
3X0 jogando em casa,
estamos perdendo feio para os produtos importados: empresas que fecham,
industriais que viram comerciantes, desindustrialização.
4×0 custo Brasil
aumentando (salários, insumos, logística, etc.)
Onde foi acabar a
famosa criatividade Brasileira, o jogo de cintura, o jeitinho, a “esperteza”
natural? Até no futebol, no qual ninguém ganhava de nossa criatividade, temos
tido resultados não entusiasmantes!
Nos entrincheiramos
nos problemas de sempre: rodovias cheias de buracos, aeroportos no colapso,
portos ineficientes, impostos, reformas em “banho Maria”, burocracia que nem se
fala, parceiros comerciais as vezes pouco confiáveis, concorrentes desleais,
etc.
Até agora falamos
daquilo que está fora de alcance do dia a dia da empresa.
Como sair dessa?
Se insistimos na
situação conjuntural, então a receita é fácil: basta clonar o que fazem
os países altamente exportadores. Aqui vai uma “lição de casa” que não é
novidade para ninguém:
·
Qualidade, transparência da gestão publica e estabilidade institucional.
·
Regulamentação favorecendo investimentos em competitividade.
·
Infra-estrutura de 1° mundo.
·
Negociação para ter acesso aos mercados externos com acordos bi e
multilaterais
(México e Chile que ensinam!)
(México e Chile que ensinam!)
·
Reforma tributaria (para não exportar impostos)
·
Maiores incentivos à exportação (exemplo: linhas de crédito oficiais
para importação de equipamentos, treinamento).
·
Articulação de uma estratégia exportadora mais ativa, desvinculada da
conjuntura do mercado interno
·
Investimento na formação tecnológica criando novas competências em
produtos e serviços de alto valor agregado
·
Geração e divulgação das marcas brasileiras e investimento para abrir
canais de distribuição de produtos no exterior
·
Criação de concreto suporte financeiro para as operações de comércio
exterior.
·
Desenvolvimento de uma importante base de informações.
·
Investimento em educação e treinamento(formando mais engenheiros!!).
·
Incentivo a constituição de redes de empresas
·
Simplificação dos processos administrativos.
·
Promoção da cultura exportadora.
·
Inserção de mais PMEs na exportação, diversificando mercados e produtos
Não somos nós que
vamos sugerir tudo isso, pois é elementar, além do fato de que no máximo
podemos sugerir, mas não podemos agir!
O problema é que até
fazer tudo isso que acabamos de indicar, talvez passe uma ou duas gerações, e
nós como ficamos?
Então, “mudamos de
pagina” e vamos dar uma olhada se dá para reduzir os efeitos negativos dessa
situação fora de nosso alcance.
O que é que está ao
nosso alcance? Dar uma “chacoalhada” na nossa empresa! (ou como dizem os experts uma “re- engenharização”. Prefiro
chacoalhada, pois tem que se pegar a empresa e revirar de cabeça para baixo)
Tenho certeza que vai
ter muita coisa para mudar
Começamos pelo
início:
Como está nossa
empresa; há quanto tempo que não lançamos um produto novo; há quanto tempo que
o nosso produto não tem modificações; há quanto tempo não visitamos a maior
feira do mundo do nosso setor para ver o que acontece no tal de mercado global;
o nosso departamento de exportação conta com gente qualificada para isso, ou só
tem alguém que fala algum idioma estrangeiro; quantos anos de uso tem nossa
máquinas; temos terceirizado ao máximo; é viável uma “delocalização”; nossos
processos produtivos estão atualizados; nosso pessoal está sendo treinado
periodicamente; temos tirado pedido ou gerenciado a exportação; estamos na
“zona de conforto” ou estamos pegando nossa maleta e garimpando os mercados;
temos tendência mais para oportunismo ou para oportunidades; a exportação é
meta de faturamento com lucro imediato ou é uma estratégia da empresa; temos
sido agressivos como os chineses ou esperamos que alguém toque a nossa
campainha; temos verificado se podemos intensificar o trabalho de “co-working”
junto aos nosso fornecedores; temos comparado o preço de nosso produto com o
preço no exterior do mesmo???
Porque tudo isso?
Porque a competitividade começa na empresa! Eu posso viver no melhor país do
mundo, um país onde até colocam o tapete vermelho para o exportador (como usa
uma famosa linha de aviação Brasileira para seus passageiros), mas se eu
empresa, não tiver cortado gordura internamente, não tiver uma visão global do
meu negócio, uma atitude de médio longo prazo, uma cultura de
internacionalização dentro da empresa (lembro que é muito mais difícil vender a
idéia da exportação na empresa do que vender o produto lá fora), não vai
adiantar ter “o tapete vermelho” se eu estou parado.
Eu preciso ter uma
velocidade natural pela minha competitividade “intrínseca“ como empresa; se
depois tiver um empurrão, ótimo, vou aumentar a velocidade, mas devo ter uma
velocidade mínima para aproveitar o empurre.
Traduzindo: o maior
responsável (quase sempre) da competitividade na exportação é a empresa:
portanto, primeiro colocamos “a casa em ordem” e depois vamos, com mais moral,
pleitear mais ajuda (o empurrão da conjuntura)!
Pensamos por um
instante como países onde existe um altíssimo custo de mão de obra, uma moeda
forte, uma complicadíssima gestão do pessoal, conseguem ter saldo positivo na
balança comercial de produtos manufaturados de centenas de bilhões de dólares
(e não estou falando da China). Eles exportam “INTELIGÊNCIA” por gramas e não
commodities a granel.
Exportam competência
de gestão, design, inovação tecnológica, custos ao mínimo, alta eficiência por
pessoal treinado, o gosto para o bem feito, elevada terceirização,
“delocalização”, empresas em redes, controle da distribuição,
inteligência de informação, investimento em conhecimento de mercado,
investimento em patentes e marcas.
O assunto é: tem que vender por gramas e não por toneladas.
Na Europa também tem produtos chineses e também fecharam um monte de
empresas. Quais? As que tinham como vantagem competitiva o preço! E sempre terá um chinês com um preço na metade ou um quarto do seu. Se
você competir por inovação, design, tecnologia, vai ter vida mais longa.
Anos atrás tive
acesso a um estudo feito por uma Associação de produtores de calçados em outro
país de América Latina, cujo titulo era “Como parar a invasão chinesa” (um
calhamaço de 165 páginas).
É obvio que foi
dinheiro jogado fora, pois as empresas que encomendaram esse estudo já não
existem mais, pois não tem como “parar os chineses”.
Por outro lado, uma
outra associação de produtores, para moda, encomendou a um Instituto
tecnológico e de gerenciamento, um estudo cujo titulo era ”Como melhorar a
competitividade do setor de artigos de moda”.
Vocês já adivinharam
quem investiu melhor dinheiro e tempo!
E então o que
fazemos? Vamos continuar a resmungar a vida toda sobre cambio, reforma
tributária, logística, e tudo o que falamos?
Até que a situação se “normalize”, talvez já não estejamos por aqui!
O negocio é arregaçar
as mangas e vamos fazer um check-list na nossa empresa
(como faz o comandante de um avião antes de sair do pátio de estacionamento
para a pista de decolagem), vamos analisar a nossa competitividade interna,
vamos pensando em alianças deixando de lado nossas virtudes latinas
(individualismo por natureza, e desconfiados por vocação)! A esse propósito,
experimente pensar: quantas empresas fecham por ser pequenas e quantas fecham
por pensar pequeno?
É agora que temos que
pensar em internacionalizar, já que com o mercado interno aquecido podemos ter
uma margem de segurança a mais. Lembro que o pior momento para pensar em
exportar é quando o mercado interno está em crise, pois na crise, você não tem
recursos e calma para esperar os resultados da exportação, sem contar que
talvez você tenha que “revolucionar“ a forma de produzir para ser competitivo
lá fora. Não acha que é melhor iniciar antes que a crise te pegue?
E, depois não precisa
falar isso: você não tem alternativa! Não está conseguindo exportar pela
“conjuntura”, está perdendo mercados lá fora duramente conquistados, aqui
dentro do seu mercado já está perdendo posição. A pergunta é: até quando vai
agüentar?
Você precisa sair
desse circulo vicioso: vai fazer uma visita na maior feira mundial do seu
setor. Vai ser a forma mais barata para você elaborar seu plano de ação: se
medindo com o mundo!
A hora de exportar é
agora, preparando-se profissionalmente. Essa situação de conjuntura não vai
mudar logo e você está lutando contra o tempo.
Pense em alianças,
pense em novas características do produto, na embalagem, numa outra forma de
vender, numa nova proposta da empresa, pense numa maior qualificação de
pessoal, pense em novos mercados, pense que somos o povo mais criativo do
mundo, (faça acordar em você aquela criatividade tropical pela qual somos tão
famosos), pense hoje em internacionalizar: amanha pode ser tarde!
Boa sorte!
Nicola Minervini
Autor do livro “ O exportador”, um livro que tem formado milhares de
executivos de comercio exterior nos últimos 21 anos, saindo a sexta
edição agora em Agosto 2012, onde se focaliza a internacionalização com
inovação, com método.
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