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26/09/2012

Brasil x EUA: A suposta crise diplomática.


Os Estados Unidos estão acusando o Brasil de protecionismo. Foi o que revelou uma dura carta enviada na  semana passada pelo representante comercial dos Estados Unidos, Ron Kirk, ao ministro de Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota.

Segue alguns trechos do documento:

- “Escrevo para expressar em termos fortes e claros a preocupação dos Estados Unidos com os aumentos de tarifas de importação propostos e programados no Brasil e no Mercosul”.

- “O aumento de tarifas no Brasil vai restringir significativamente o comércio em comparação aos níveis atuais e representa claramente uma medida protecionista.”.

- “As ações do Brasil prejudicam seus parceiros comerciais na região e no mundo. Historicamente, esse tipo de ação leva os parceiros a responder da mesma maneira, o que amplifica o impacto negativo”.

- “Peço ao Brasil para reconsiderar a implementação de novos aumentos de tarifa e para desistir daqueles que já foram aplicados”.

Kirk se refere aos aumentos de tarifas de importação promovidos pelo governo Dilma Rousseff. No início do mês, o Brasil elevou as alíquotas cobradas de 100 produtos e anunciou que prepara uma lista de mais 100. São poucos itens em um universo de 10 mil posições tarifárias, mas representam produtos importantes, como aço e resinas plásticas, insumos para diferentes cadeias produtivas.


A ABRACOMEX entrevistou 3 de nossos especialistas em Comércio Exterior que deram sua opnião sobre o assunto:


Carlos Araújo
• Professor Universitário. Editor do blog comexblog.com.
• Especialista em Logística e Comércio Internacional. 
  
Germano Gehrke
• Professor de Comércio Exterior Furb (Blumenau) e Unidavi (Rio do Sul)
  
 Paulo Melo
• Mestre em negócios internacionais pela Universidade de Bristol, Inglaterra.
• Professor universitário, palestrante e consultor.
• Sócio-Diretor da R&M Treinamento Ltda em São Paulo.
  

ABRACOMEX -   O que acha sobre a acusação dos USA contra o Brasil de ter práticas protecionistas? 

Carlos Araujo: Ambos os lados possuem telhado de vidro, já que os EUA inundaram o mercado com dinheiro barato para aquecer a sua economia, e isso fez o dólar se desvalorizar perante outras moedas e aumentará as suas exportações. Ainda assim, os EUA subsidiam pesadamente a sua agricultura. Do lado de cá, o Brasil é altamente protecionista, e não é de agora.

Brasil e Estados Unidos estão apenas jogando para a plateia.

Germano Gehrke: Sobre a acusação dos Estados Unidos de que o Brasil teria adotado recentemente práticas protecionistas, cabe primeiramente uma análise dos 100 produtos incluídos na decisão brasileira de aumentar impostos de importação. Nem todo o aumento de imposto de importação é questionado ou considerado como medida protecionista. No passado, o Brasil aumentou o imposto de importação para produtos originários da China em função de um aumento expressivo e pouco usual das importações brasileiras daquele país. Há pouco mais de 3 anos, por exemplo, o imposto de importação de confecções originárias da China passou de 20% para 35%, sem que houvesse maiores repercussões.  

Concretamente em relação à lista dos 100 produtos que tiveram acréscimo no imposto de importação e que originou a reclamação dos Estados Unidos, ao tomarmos o primeiro produto listado, Batatas Congeladas (NCM 2004.1000), cujo imposto de importação passou de 14% para 25%, nota-se uma tendência de queda nas importações ao compararmos os primeiros oito meses deste ano (US$ 118 milhões) com o mesmo período de 2011 (US$ 134 milhões). Este dado, isoladamente, não justificaria o aumento do imposto de importação sobre este produto. Além disso, cabe notar que a Argentina foi o maior fornecedor de batatas congeladas para o Brasil nos primeiros 8 meses de 2012, responsável por mais de 50% do volume que importamos, um resultado alinhado com nossa política de apoio ao Mercosul. Por último, cabe questionar as razões pelas quais o Brasil importa batatas congeladas? Com a inequívoca vocação que temos para a produção e exportação de produtos agrícolas e derivados, por que não seríamos competentes na produção destas batatas?


Paulo Melo: O Brasil de fato tem práticas claramente protecionistas; mas não vejo uma guerra cambial dos EUA contra o Brasil; apenas os EUA estão tomando decisões de política econômica interna para alavancar sua economia, que infelizmente atingem países despreparados como o Brasil e que dependem de fatores externos favoráveis para manter seu saldo na balança comercial. 
A grande guerra cambial não parece ser com os EUA, mas sim com a China, que claramente manipula sua taxa de câmbio para favorecer suas exportações. 
Na verdade, este fato está sendo utilizado como pano de fundo para justificar o mau desempenho do nosso comércio exterior, altamente dependente de commodities. De novo, o Brasil continua insistindo em  parcerias com países que, estes sim, estão em "guerra comercial" declarada com o Brasil como é o caso da Argentina. Estamos mirando no "inimigo" errado.
O Brasil é um país emergente que precisa de ajuda dos países ricos, mas não aceita criticas e nem aguenta a pressão de um jogo de "gente grande". 
O Brasil devia fazer seu dever de casa: reduzir o chamado "custo Brasil" e resolver suas ineficiências crônicas para se tornar um país mais competitivo.

ABRACOMEX-   Quais os reflexos para o comércio exterior brasileiro com uma suposta guerra cambial praticada pelo USA e Europa?


Carlos Araujo: Os Estados Unidos acusam o Brasil de ser protecionista, mas se recusam a discutir a questão cambial. Eles também distorcem o comércio. Com uma desvalorização cambial, os EUA oferecem um subsídio direto para as suas exportações, e em conjunto fortalecem as suas tarifas de importação.  Do lado de cá, as tarifas de importação podem perder a eficácia com a valorização cambial recente.

Isso pode comprometer o comércio bilateral entre Brasil e EUA.  Já para a Europa, vai depender do comportamento do Euro nos próximos meses.


Germano Gehrke: As políticas adotadas pelos Estados Unidos e Europa de facilitação de acesso ao capital (quantitative easing) têm por objetivo principal criar condições mais favoráveis para o crescimento econômico. Há, entretanto, efeitos colaterais ou menores, à medida que parte deste dinheiro facilmente disponível acaba sendo atraído por países que remuneram o capital com juros mais altos que os praticados no país de origem. Ainda assim, as resultantes desvalorizações das moedas dos países que praticam estas políticas acabam por tornar seus produtos mais competitivos. Para países que sofrem com estas medidas, como é o caso do Brasil, resta reconhecer que são medidas essencialmente voltadas para tornar o ambiente mais favorável ao crescimento da economia em sua origem e que traz como consequência o aumento de competitividade dos produtos destes países através da desvalorização da sua moeda. Cabe ao Brasil adotar mecanismos que evitem a valorização de nossa moeda, tal como a redução dos juros (que ainda estão muito altos) ou mesmo a imposição de impostos sobre capital estrangeiro especulativo, que já foi adotada no passado. 


Paulo Melo: O Brasil depende mais dos EUA  do que os EUA do Brasil. Este "jogo" não é equilibrado; assim, não nos interessaria uma "guerra comercial" com um dos nossos principais mercados consumidores de produtos brasileiros. A solução dos problemas econômicos internos americanos, ajudaria mais o Brasil do que ficar trocando acusações de quem é mais ou menos protecionista. 

24/09/2012

Insetos “tipo exportação”.

Uma empresa brasileira já se prepara para os novos tempos. A Nutrinsecta, produtora de grilos, besouros, baratas e moscas, aguarda certificação do Ministério da Agricultura para que seus insetos, hoje usados na 
alimentação animal, possam ser consumidos por humanos.
Segundo a Nutrinsecta, em mais de cem países os insetos já fazem parte da dieta alimentar. A China é um exemplo.
Os preços são altos, um quilo de insetos custa cerca de R$ 200, em média.









18/09/2012

Brasil entra pela primeira vez no ranking dos 50 países mais competitivos


Na avaliação, divulgada pelo Fórum Econômico Mundial, Brasil subiu cinco posições desde o ano passado

Pela primeira vez, o Brasil entrou para o ranking dos 50 países mais competitivos no Relatório Global de Competitividade, divulgado nesta quarta-feira pelo Fórum Econômico Mundial. Para chegar à 48ª posição desta edição do ranking, o País subiu cinco lugares desde o ano passado.
No topo do ranking, pelo quarto ano consecutivo, está a Suíça. Cingapura ficou em segundo lugar, seguido por Finlândia, Suécia, Holanda e Alemanha. Já os Estados Unidos caíram da quinta posição que ocupavam em 2011 para o sétimo lugar. Em oitavo, nono e décimo lugares ficaram Reino Unido, Hong Kong e Japão, respectivamente.
De acordo com o responsável pela análise dos dados brasileiros, Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, o ranking foi afetado pela incerteza crescente por conta da crise na Europa, da vulnerabilidade norte-americana e da desaceleração da China. A Fundação coordena a coleta e a análise de dados brasileiros.

Avaliação brasileira
 
A melhor avaliação sobre a macroeconomia nacional ajudou a puxar o País para a lista dos 50 mais competitivos. Este ano, o Brasil subiu 53 posições no critério "ambiente macroeconômico", saindo da 115ª colocação em 2011 para a 62ª. O salto, segundo a Fundação Dom Cabral, pode ser consequência da exclusão do indicador "spread bancário" do estudo deste ano. O indicador costuma ser "problemático" para o País, de acordo com a fundação, mas foi retirado da análise de 2012 por ser considerado ineficiente para comparar o grau de eficiência bancária nos diversos países.
Arruda explica que as medidas tomadas pelo governo Dilma Rousseff de redução da taxa básica de juros e consequente na queda dos juros bancários teriam impacto positivo para a colocação do País no ranking, mas não conseguiriam fazer com que o "ambiente macroeconômico" subisse tantas posições.
Além da macroeconomia, o "uso de tecnologias de informação e comunicação" também ajudou a tornar o País mais competitivo, de acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial. O indicador sobre "sofisticação dos negócios", apesar de ter caído dois pontos de 2011 para 2012, ainda é positivo - o Brasil ficou em 33º lugar.
Do outro lado, os níveis de "confiança nos políticos" e "eficiência das políticas de governo" colocam o País em 121ª e 111ª posição, respectivamente. O Brasil também fica mal posicionado na avaliação da "qualidade da infraestrutura de transportes" (79ª posição), da "qualidade da educação" (116ª posição) e do "volume de taxação como limitador ao trabalho e investimentos" (144ª posição). No pilar "inovação", o Brasil caiu da 44ª para 49ª posição. O resultado, avalia Arruda, está ligado à falta de mão de obra qualificada.
O relatório é feito com dados estatísticos nacionais e internacionais, além de pesquisa de opinião feita com executivos. Em 2012, o estudo analisou a competitividade de 144 países.
Fonte: Estadão

14/09/2012

Exportações aceleram com exportação de agronegócio.


As exportações do agronegócio entre os meses de janeiro e agosto deste ano cresceram 1,8% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo US$ 62,5 bilhões – o que representa 39% do total das exportações brasileiras em 2012. No mês de agosto, as exportações do setor foram de US$ 8,8 bilhões, enquanto as importações foram de US$ 1,5 bilhão.

Em 2012, os setores que mais venderam foram: complexo soja (US$ 21,4 bilhões), carnes (US$ 10 bilhões), complexo sucroalcooleiro (US$ 7,8 bilhões), produtos florestais (US$ 6 bilhões) e café (US$ 4,1 bilhões). Juntos esses cinco setores responderam por 79,2% da pauta exportadora. Os que tiveram maior crescimento percentual nas vendas foram fibras e produtos têxteis (62,5%), animais vivos (53,4%, exceto pescados), complexo soja (20,3%), bebidas (17%) e fumo e seus produtos (16,1%). O complexo soja permanece liderando a pauta de exportações com 34,2% de participação, superior à do mesmo período de 2011 que registrou 29%.
Entre setembro de 2011 e agosto de 2012, as exportações dos produtos agropecuários brasileiros atingiram US$ 96 bilhões, crescimento de 8,8% em comparação às vendas nos doze meses imediatamente anteriores. A balança comercial do período registrou superávit de US$ 79,1 bilhões (alta de 10%). As informações foram elaboradas pela Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a partir dos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
A China apresentou o principal aumento das exportações nos últimos 12 meses, de 46,1%, atingindo US$ 19,7 bilhões em aquisições de produtos nacionais. Outros países que se destacaram foram Egito (+40,9%); Venezuela (+36,2%); Tailândia (+33,3%); e Coréia do Sul (+31,8%).
O saldo comercial no mês de agosto (US$ 7,3 bilhões) foi 12% menor que em 2011. Houve queda também no total exportado no período em relação ao ano passado (10,5%), assim como nas importações (1,9%).

No Curso de International Trader os alunos aprendem como vencer as barreiras para aumentar as exportações.
Matricule-se aqui: http://goo.gl/Vt8HJ
 

11/09/2012

Convite Encontro Empresarial Taiwan e Brasil





O Taiwan External Trade Development Council vai liderar uma delegação de exposição de 32 excelentes fornecedores de Taiwan para a América Latina, no Brasil no dia 8 outubro em São Paulo. O objetivo desta visita é a construção de parcerias de negócio estreitas entre Taiwan e esses países. Os fornecedores de Taiwan expositoras irão compartilhar informações de seus mais recentes produtos e amostras presentes, incluindo uma variedad 
e de energia verde e produtos de TIC, máquinas, ferramentas e ferragens, equipamentos esportivos, tecidos e acessórios têxteis, metais e produtos siderúrgicos, peças de automóvel, etc, uma reunião comércio. Além dos fornecedores de produtos, o Banco de Exportação-Importação da República da China também farão parte da delegação para prestar serviços de consultoria em seguro de crédito, crédito, garantia e outros serviços.


Local:São Paulo-SP
Data: Quinta-feira 04 de outubro, de 9:00-18:00
Local: Jardins A, Tivoli Hotel (Alameda Santos, 1437, Cerqueira César, CEP - 01419-001, São Paulo, Brasil)

Inscrições: http://goo.gl/DqhIC

Outros incentivos desta natureza também estarão presentes no Curso de Internacional Trader, que começara no dia 15/09 em parceria com a Universidade Anhembi Morumbi e diversas outras Câmaras de Comércio.


Acompanhe toda a programação aqui no site da ABRACOMEX, através do endereço :http://goo.gl/vZL5I

05/09/2012

Camex aprova lista de produtos que terão elevação temporária do Imposto de Importação


Em reunião realizada hoje, em Brasília, a Câmara de Comércio Exterior (Camex), presidida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), aprovou  a lista de cem produtos que terão elevação temporária de Imposto de Importação. A lista aprovada hoje pela Camex não terá vigência automática. Para que os cem produtos tenham elevação de alíquotas, é necessária a apreciação dos demais países sócios do Mercosul a partir do próximo dia 6 de setembro, data em que entra em vigor a normativa do bloco (Decisão CMC n° 39). Os integrantes do Mercosul terão o prazo de 15 dias úteis para eventual negativa acompanhada de fundamentação objetiva.
Só depois desse prazo, se não houver oposição, o Brasil estará autorizado a adotar a medida. As elevações de Imposto de Importação para a lista de cem produtos terão validade de até 12 meses, prorrogáveis por igual período, até o final de 2014, respeitando-se os níveis tarifários consolidados na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Elaboração da lista
A lista foi elaborada pelo Grupo Técnico sobre Alterações Temporárias da Tarifa Externa Comum do Mercosul (GTAT-TEC), instituído na Camex em janeiro, a partir da aprovação da Decisão do Conselho Mercado Comum (CMC) n° 39, em dezembro de 2011.
O GTAT-TEC, presidido pela Secretaria-Executiva da Camex e formado por representantes dos sete ministérios que compõem a Câmara de Comércio Exterior, analisou os pedidos do setor privado e de entidades representativas que enviaram os pleitos por meio de consulta pública. Para apresentar a solicitação, foi necessário fornecer informações como caracterização do produto, alteração pretendida, oferta e demanda, além de dados complementares. Os parâmetros objetivos utilizados para análise dos pedidos foram:
  • compatibilidade com o Plano Brasil Maior e com outras políticas públicas prioritárias, tais como Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), programa de margem de preferência em compras governamentais, novo regime automotivo, entre outras;
  • evolução das importações, em especial o volume e a taxa de crescimento;
  • grau de penetração das importações (porcentagem das importações sobre o consumo nacional aparente);
  • queda do preço médio das importações;
  • balança comercial deficitária;
  • capacidade produtiva compatível com a demanda;
  • nível de utilização da capacidade instalada;
  • coerência da elevação tarifária com a cadeia produtiva;
  • agregação de valor na indústria doméstica;
  • investimentos realizados, em curso ou planejados para o setor;
  • alíquota máxima de 25%, considerando impactos em preços e na cadeia produtiva.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social do MDIC

04/09/2012

Que concorrer ao iPad da ABRACOMEX?

Promoção imperdível. Sorteio quinta-feira!


Veja o regulamento: http://on.fb.me/LgGS8n


S

03/09/2012

Homem mais rico da China planeja entrar no mercado brasileiro


Em entrevista exclusiva ao iG, Zong Qinghou diz como vai colocar sua empresa de bebidas entre as 500 maiores do mundo

Zong Qinghou dirige uma Mercedez Benz que comprou há dez anos. Chega cedo ao escritório, um prédio cinza, antigo, de seis andares, que tem na entrada principal durante as 24 horas do dia dois seguranças de farda verde com detalhes em amarelo. Aos 66 anos, trabalha de segunda a sábado, pelo menos 12 horas ao dia e não tem planos de se aposentar.

Apesar de levar uma vida sem nenhum glamour – ele almoça no refeitório da empresa, não gasta com caros ou viagens de turismo aos exterior -, ele é o homem mais rico, entre os 149 bilionários da China, segundo o Hurun Report 2010, publicação dedicada ao mapeamento da riqueza no país. Segundo esse relatório, Zong é dono de uma fortuna de US$ 12 bilhões (R$ 19,4 bilhões). Na lista da Forbes, ele aparece como o terceiro chinês mais rico, com US$ 5,9 bilhões (R$ 9,5 bilhões).

Ele, entretanto, não pretende parar por aí. Dono da empresa de bebidas não alcoólicas Wahaha, presente apenas no território chinês, ele disse ao iG, em seu escritório, que está de olho no mercado brasileiro. Em Hangzhou, no leste da China, dentro de uma sala de 100 metros quadrados, decorada com um aquário – que simboliza a fortuna – dois sofás vermelhos desbotados e as paredes cobertas por estantes de madeira escura lotadas de livros, o assunto preferido do homem mais rico da China estava a 18 mil quilômetros de distância, o Brasil.

Depois de apontar onde cada um dos presentes na entrevista deveriam ficar, como dita a etiqueta de negócios chinesa, Zong sentou-se de frente para a porta – lugar do mais velho, ou do mais importante na hierarquia – e colocou em cima da mesa seu maço de cigarros da marca suíça Davidoff, uma caneca de porcelana com chá e disse para a intérprete que tinha uma hora para a conversa. Como usou uma parte do tempo da entrevista, que foi filmada do começo ao fim por um de seus funcionários, deixou durar um pouco mais.

Sem qualquer embaraço pelo pouco conhecimento que tem do País, perguntou: “Qual é mesmo o número de habitantes do seu país? E quanto custa uma caixinha de chá nos supermercados?” Recebidas as respostas, sorriu, como um garoto que acaba de fazer arte. No instante seguinte, mostrou como o chinês que acumulou do zero uma fortuna de US$ 12 bilhões é rápido em tomar decisões: “Bem, o Brasil me parece um bom mercado. Pode escrever aí que vou começar já a planejar a venda de chá no seu país.”

Passados os quase 70 minutos de entrevista, durante os quais fumou três cigarros, Zong levantou-se, atravessou seu escritório e entrou em um quarto, no extremo oposto da porta de entrada. De lá, um minuto depois, ele volta com uma grande caixa nas mãos, em um embrulho vermelho, que simbolizam a fortuna e alegria. Em uma atitude completamente previsível, tratando-se de um executivo chinês, presenteou o visitante num ato que, para os chineses, sela a criação de uma boa relação profissional e pessoal.

Zong Qinghou: A história da Wahaha está intimamente ligada à reforma econômica da China nos últimos 30 anos. A primeira fase importante da empresa foi durante a era de Deng Xiaoping [presidente chinês de 1978 e 1992], quando foi estabelecido no país o sistema operacional e de distribuição de terra para motivar as pessoas e desenvolver empresas. No início, a Wahaha vendia sorvetes, mas logo detectamos uma demanda nova no mercado e passamos a fabricar bebidas nutritivas para crianças. O segundo momento essencial para Wahaha, durante a década de 1990, foi quando compramos uma empresa de comidas enlatadas. Naquela época, percebemos que o mercado de bebidas era maior e decidimos focar neste setor. O terceiro momento-chave foi quando a Wahaha construiu sua primeira fábrica fora de Hangzhou, com apoio do governo central que queria desenvolver a região de Três Gargantas. De lá para cá, a empresa se expandiu rapidamente por toda a China

iG: Como você deseja ver a Wahaha cinco anos e daqui a dez anos?

Qinghou: A Wahaha irá manter a sua liderança no setor de bebidas e vai crescer para todos os setores da cadeia. No momento, temos participação de 15% no setor de bebidas e esperamos aumentar para 20% até 2016. A meta é estar no ranking da [revista norte-americana] Fortune 500 em cinco a dez anos.
iG: Como a Wahaha tenta se diferenciar para competir com gigantes como a Coca-Cola e a PepsiCo?

Qinghou: Competimos para melhorar nossos produtos, o que ajuda o desenvolvimento da empresa. Em termos de refrigerantes cola, Coca-Cola e a Pepsi definitivamente lideram o mercado, mas a Wahaha Future Cola captura determinado grupo de consumidores. Acredito que estamos mais bem posicionados do que os concorrentes, pois temos uma gama maior de produtos do que os dois. Posso dizer que, pelo menos na China, a Wahaha tem uma posição melhor do que a Coca-Cola e a Pepsi.

iG: Qual a estratégia da Wahaha para estar entre as maiores do mundo?

Qinghou: Na China, vamos crescer em toda a cadeia de bebidas. Também pensamos em entrar no mercado internacional. Já conversamos com algumas empresas, mas, neste momento, vamos manter a calma e pensar em cada movimento antes de tomar uma decisão. Precisamos estar bem preparados para as oportunidades. Recentemente adquirimos uma fazenda de gado para não dependermos apenas dos pequenos produtores chineses de leite. O próximo movimento é procurar oportunidades para desenvolver o negócio de varejo. Queremos também entrar no mercado brasileiro, mas não estamos familiarizados com o mercado até agora. Gostaríamos de fazer parceria com empresas brasileiras de matérias-primas, como por exemplo, companhias de leite em pó ou de plantas das quais podem ser extraídos nutrientes.

iG: A Wahaha vai atuar no mercado brasileiro?

Qinghou: Eu acho que pode ser ótimo. Mas nunca estive no Brasil e primeiro vou fazer uma visita para avaliar o mercado. Se o povo brasileiro está começando mesmo a se preocupar mais com a saúde, acho que pode ser um bom mercado para os chás da Wahaha. Pode escrever aí que vou começar a planejar a ida da Wahaha para o seu país. Depois, se as vendas forem bem, podemos abrir uma fábrica no Brasil. Por enquanto, apenas compramos matérias-primas do Brasil para o nosso suco de laranja.

iG: A Wahaha vai manter seu foco na produção de bebidas de alto valor nutritivo?

Qinghou: Estamos nos concentrando no desenvolvimento de engenharia biológica. Os chineses têm melhor condição de vida hoje em dia, e, portanto, a estrutura de consumo das famílias mudou. As pessoas compram refrigerantes não só para matar a sede, mas também para ter saúde. Então a Wahaha vai colocar mais energia e nutrientes nos refrigerantes num futuro próximo.

iG: Quanto a Wahaha vai investir este ano em pesquisa e desenvolvimento?

Qinghou: Temos uma equipe especializada, que vem estudando diferentes culturas. Vamos investir o que for necessário. Em 2010, investimos 50 milhões de yuan [cerca de R$ 12,5 milhões] em equipamentos para pesquisa e desenvolvimento.

iG: Depois de faturar 55 bilhões de yuan (R$ 13,7 bilhões) no ano passado, qual a sua meta para 2011?
Qinghou: Esperamos que o aumento das receitas de para 70 bilhões de yuan [R$ 17,4 bilhões] este ano e 100 bilhões [R$ 25 bilhões] no ano seguinte.

iG: Como é ser o homem mais rico da China?

Z: Eu não me sinto pressionado por isso. Estou envolvido fundamentalmente nos negócios. Criei minha fortuna passo a passo, por isso não estou preocupado ou estressado em relação a isso.
iG: Como surgiu a ideia de fundar a Wahaha?

Qinghou: Eu trabalhava no campo há 15 anos e os meus pais, na cidade. Minha mãe era uma professora de escola primária. Quando ela aposentou, ocupei sua posição. Naquela ocasião, eu comecei um negócio, mas as pessoas me subestimavam. Então decidi trabalhar para valer, para que eu pudesse ser respeitado. A reforma econômica da China me ajudou a começar.

iG: Agora você sabe que conquistou esse respeito...

Qinghou: Sim. O período que passei no campo, na verdade, me deu a força para conseguir superar problemas diferentes e desenvolveu meu modo de trabalhar duro e meu estilo de vida simples. Quando fundei Wahaha, eu tinha 42 anos, com uma visão mais precisa e madura.

iG: Qual seus planos para a sua filha na Wahaha?

Qinghou: Hoje ela está cuidando de um terço do meu negócio.

iG: O senhor tem fama de mesquinho, por gastar pouco dinheiro. Não gosta de fazer compras?

Qinghou: Eu não me controlo para não ser consumista. Sou de origem pobre e não desenvolvi o hábito de comprar. Além disso, sou muito ocupado para pensar em luxo.

iG: Os estímulos do governo chinês ao consumo interno vão ajudar os negócios da Wahaha?

Qinghou: A Wahaha, particularmente, não deve receber nenhum subsídio ou ajuda financeira do governo. Embora tenhamos a visão de que o país está no caminho certo, o governo central ainda não detalhou como vai alcançar seus objetivos e conseguir a mudança que pretende no desenvolvimento econômico, diminuindo a dependência do exterior. Mas, de maneira geral, a renda familiar está aumentando a um ritmo estável, o que deve impulsionar o mercado de bebidas para um crescimento anual de 20%.

iG: Qual o maior desafio da empresa hoje?

Qinghou: A Wahaha estabeleceu marca, com uma boa imagem, e alcançou uma boa condição financeira até agora. Portanto, não temos um grande problema. No entanto, temos falta de pessoal qualificado e talentoso na empresa.

iG: Como vocês vão resolver isso?

Qinghou: Patrocinamos a educação e investimentos em vários cursos para a nossa equipe. Estamos enviamos alguns funcionários para fazer treinamentos no exterior.

iG: A China vai manter o ritmo de crescimento nos próximos anos e ultrapassar os EUA como maior economia do mundo?

Qinghou: A China é capaz de manter um elevado ritmo de crescimento nos próximos 20 anos. Se a mudança no modelo econômico para o consumo interno for alcançada, isso vai contribuir também para o crescimento de toda a economia global.

iG: O que você mais se orgulha da economia da China?

Qinghou: A China está experimentando o mais rápido ritmo de desenvolvimento ao longo destes anos, e a evolução da infraestrutura em muitas cidades estão bem resolvidos.

iG: Qual sua opinião sobre o Brasil?

Qinghou: O Brasil tem experimentado rápido desenvolvimento econômico nos últimos anos. Tanto a China como o Brasil são países em desenvolvimento e acho que os dois continuarão a ter um crescimento robusto se trabalham arduamente e em conjunto. O Brasil tem a vantagem de ser rico em recursos naturais, mas a riqueza é feita por humanos e isso não acontece naturalmente. Se todos nós trabalharmos duro, o nosso sonho de ser ricos acabará sendo realizado.

Fonte: IG